quarta-feira, janeiro 3

Transfusões de sangue potenciam um novo surto de um tipo de doença das vacas loucas



Transfusões de sangue potenciam um novo surto de Creutzfeld-Jacob



Hugo Bordeira
em Londres

Centenas de pessoas no Reino Unido poderão estar em risco de contrair a doença de Creutzfeld-Jakob, a variante humana da doença das vacas loucas, através de sangue contaminado ou em cirurgias realizadas com instrumentos infectados. Esta é pelo menos a convicção do cientista britânico John Collinge, um especialista da Unidade Prião do Medical Research Council de Londres, que analisou um grupo de 66 pessoas vítimas de transfusões de sangue infectado e chegou à conclusão de que pelo menos três faleceram de causas directamente relacionadas com a doença.

"O facto de três indivíduos deste grupo, que sabemos ter sido exposto através de sangue contaminado, terem desenvolvido a doença de Creutzfeld-Jakob sugere que a infecção pode ser transmitida de forma muito eficaz por esta via, pelo que o risco para os restantes indivíduos contaminados é bastante elevado", escreve o professor, num relatório publicado na revista científica The Lancet.

Esta facilidade de propagação através de sangue infectado torna a doença potencialmente mais perigosa do que se pensava. Na verdade, sendo um vírus originado na Encefalopatia Espongiforme Bovina (também conhecida como BSE ou "doença das vacas loucas"), os principais receios tinham que ver com a propagação através de carne contaminada. No entanto, este estudo sugere que o risco de contaminação é maior através da transfusão de sangue, uma vez que por esta via não existe a barreira da mutação do vírus que ocorre na transmissão entre espécies.

Do grupo de 66 pessoas que se sabe terem sido contaminadas através de transfusões de sangue, 39 morreram de causas não relacionadas (34 das quais nos cinco anos seguintes à infecção) e sabe-se que três faleceram devido a lesões provocadas por priões (proteínas transmitidas pela doença que se propagam e destroem as células cerebrais). Neste momento há 24 indivíduos portadores do vírus que podem vir a desenvolver a nova variante da doença de Creutzfeld-Jakob, que segundo os médicos tem um período de incubação relativamente longo - tipicamente vários anos - mas, uma vez activa, é geralmente fatal ao fim de um ou dois anos.

Nos três casos estudados pelo professor John Collinge, a doença desenvolveu-se em seis/sete anos, bastante mais depressa do que nos casos de transmissão por carne contaminada. O último paciente analisado, cuja identidade foi reservada por motivos de privacidade, contraiu o vírus numa transfusão de sangue com 23 anos e começou a ter sintomas ao fim de sete anos. Iniciou um tratamento experimental em 2004 nesta unidade de investigação médica e acabou por falecer um ano depois, já com 32.

Uma conclusão que levanta receios de uma segunda epidemia no Reino Unido e deixou em alerta o Serviço Nacional de Sangue britânico, que já reconheceu não ter testes de despistagem capazes de detectar o vírus. Até à data, a doença já provocou 160 vítimas mortais no país, a maioria das quais jovens que ingeriram carne contaminada.

Quem fez transfusão há mais de 14 anos deve se submeter a teste

Quem fez transfusão há mais de 14 anos deve se submeter a teste
O médico especialista em doenças infecciosas e parasitárias Rafael Sani Simões fez um alerta para a possibilidade do Brasil enfrentar um surto de hepatite C a partir de 2011. Segundo ele, todas as pessoas que receberam sangue antes de 1992 têm grandes riscos de estarem infectadas e não saberem.

Ele argumenta que antes de 1992 o sangue destinado as transfusões não era analisado para detecção do vírus da hepatite C, pois não se conhecia completamente essa forma de hepatite.

“Hoje em dia, já sabemos que essa doença pode não se manifestar por até 20 anos. Por esse motivo, cerca de 90% dos contaminados desconhecem suas condições e descobrem que estão infectados em um estágio já muito avançado”, explica Simões.

O especialista diz que a doença age silenciosamente e raramente provoca sintomas. “Sem dar sinais, evolui para quadros graves, como cirrose ou câncer, sem que o paciente perceba o risco para a sua saúde.”

Para facilitar diagnóstico precoce e tratamento adequado, o médico aconselha as pessoas que receberam transfusão antes de 1992 a fazer teste de hepatite C.

http://www.bomdiasorocaba.com.br/index.asp?jbd=2&id=108&mat=55695

terça-feira, janeiro 2

Transplante de medula óssea sem transfusão de sangue


Quarta Feira, 03 de Janeiro de 2007
Transplante sem transfusão de sangue

ADRIANA DIAS LOPES
Da Agência Estado - São Paulo

Uma equipe de hematologistas do Hospital São Camilo, em São Paulo, fez um transplante de medula óssea usando uma técnica muito rara na literatura médica brasileira. Em respeito à religião da paciente, uma adolescente de 14 anos, Patrícia, com leucemia que é testemunha de Jeová, não foi feita transfusão de sangue.

Num procedimento desse tipo o risco de não receber sangue é enorme. A medula é justamente o órgão que produz os componentes mais importantes do sangue, como glóbulos vermelhos e plaquetas. Até a nova medula ter suas funções normalizadas depois do transplante, são necessários pelo menos 15 dias. As transfusões são de plaquetas, que são responsáveis pela coagulação sanguínea e glóbulos vermelhos, que têm a função de transportar oxigênio no sangue. Sem os componentes, a chance de o paciente ter sangramentos e anemia profunda é altíssima.

O caso de Patrícia foi parar nas mãos do hematologista Roberto Luiz da Silva, do São Camilo, há um ano. Depois da aprovação da diretoria do hospital, foi decidido que a menina seria transplantada, mas com uma condição: se corresse risco de morte, receberia sangue. "Ele foi o único médico que se comprometeu a se esforçar ao máximo para nos atender", conta Júlio Borba, pai da paciente.

Com crianças, o código de ética médica é claro. "A decisão médica sempre prevalece à vontade dos pais da criança em caso de risco de morte", explica Marco Antônio Becker, primeiro-secretário do Conselho Federal de Medicina.

Com adultos não há consenso. "Nosso código profissional diz que o médico não deve usar tratamento que o adulto não queira, salvo em perigo de vida", diz Becker. "O paciente, por sua vez, não é obrigado a receber tratamento que não queira."

PRÉ-OPERATÓRIO

Patrícia passou por uma preparação especial no pré-operatório. "Ela tomou hormônios para elevar a quantidade de componentes do sangue e entrar no transplante com níveis acima do normal", explica Luiz da Silva.

Para estimular os glóbulos vermelhos, foi dado eritropoietina. Para plaquetas, interleucina. E mais doses altas de ferro e ácido fólico. Os remédios fizeram com que ela começasse o transplante com 214 mil plaquetas. Durante o procedimento, o número caiu para 33 mil. Ela recebeu alta, 35 dias depois, com 72 mil plaquetas. "Em nenhum momento ela correu risco. Mas fiquei praticamente 15 dias sem dormir", lembra o hematologista.

Uma pessoa saudável tem de 150 mil a 500 mil plaquetas. A transfusão é indicada quando a quantidade de plaquetas fica abaixo de 20 mil, o que é muito comum em caso de transplantes de medula. Na maioria dos casos o paciente recebe transfusão durante o transplante e nas duas semanas seguintes.

"Essa técnica com remédios não é usada como rotina em nenhum centro de transplante do mundo", analisa Mair Pedro de Souza, hematologista do Hospital Amaral Carvalho, em Jaú, um dos maiores centros de referências em transplantes do País. "Seria muito interessante que houvesse um protocolo grande (pesquisa clínica) a partir de agora."

SANGUE SAGRADO

O Brasil tem 1,6 milhão de testemunhas de Jeová Para eles o sangue é sagrado e, por isso, não pode haver doação de terceiros