Doar ou não doar sangue?
Cirurgias sem sangue é uma nova alternativa aos pacientes
Um ato de amor, gotas que salvam, e outros apelos comerciais são utilizados pelos hemocentros e voluntários para sensibilizar a população da necessidade de doar sangue.
Esse apelo, porém, não convence a todo mundo. Os membros de As Testemunhas de Jeová trabalham na outra mão de direção e orientam seus fiéis para não doarem nem aceitarem transfusão de sangue sob pretexto de estar ferindo um preceito bíblico.
Dessa forma, captar doadores atualmente não é tarefa fácil. A desinformação e mitos - como doar emagrece, deixa o sangue mais ralo ou grosso - ainda persistem e atrapalham o trabalho dos bancos. O sangue não pode ser produzido em laboratórios e, por isso, a única maneira de obtê-lo é através da doação. O ato de doar sangue não faz mal para a saúde e na coleta não há risco de se contrair doença alguma, pois todo material utilizado é descartável e individual.
Por recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), os bancos ainda submetem os voluntários a um rigoroso questionário com perguntas de caráter pessoal e íntimo. A doação total consiste na retirada de aproximadamente 450 mililitros de sangue em cerca de dez minutos. Homens podem doar a cada dois meses e mulheres, no período de três meses. Exigências necessárias para doação- Gozar de boa saúde e não ter contraído Chagas, AIDS, Hepatite, Sífilis, Malária, Tuberculose (avaliação médica); - Não estar utilizando medicamentos de uso prolongado como anti-hipertensivos, antiinflamatórios, antibióticos, etc; -Ter entre 18 e 65 anos de idade e pesar acima de 52 quilos; -Apresentar carteira de identidade ou profissional ou habilitação ou passaporte; -Ter dormido pelo menos 6 horas na noite anterior à doação;-Plantonistas não devem doar sangue no dia em que saírem do plantão;-Não realizar exercícios físicos antes da doação; -Não ter ingerido bebida alcoólica nas últimas 24 horas; -Não ter colocado piercing ou feito tatuagem nos últimos 12 meses; -Não ter realizado endoscopia nos últimos doze meses; -Evitar fumar duas horas antes da doação
O sangue e as Testemunhas de Jeová
A tragédia da Aids obrigou cientistas e médicos a tomar medidas para tornar a sala de cirurgias um lugar mais seguro. Para o especialista Alex Zapolanski, de San Francisco, Califórnia, “as transfusões de sangue deixam muito a desejar e estamos fazendo grandes esforços para não as aplicar em ninguém”. A opinião do médico é corroborada pelo periódico Journal of Vascular Surgery. “Os riscos de transmissão de doenças e de imunomodulação dão evidência clara de que temos de encontrar alternativas para todos os nossos pacientes”, completa.
De acordo com Airton Pissará, Ancião das Testemunhas de Jeová de Taquaritinga, ao tratar de um paciente que é Testemunha, pede-se aos médicos que cuidem do problema clínico ou cirúrgico em harmonia com a decisão e a consciência do paciente, com a decisão moral/religiosa dele de abster-se de sangue.
“Quando a Testemunha recusa tomar sangue, os médicos talvez sintam dores de consciência diante da perspectiva de fazerem algo que não lhes parece o máximo. O que a Testemunha solicita aos médicos conscienciosos, porém, é proverem-lhe os melhores cuidados alternativos, sob tais circunstâncias”, explica Pissará
.O ancião Nelmar Candelariu recorda os preceitos bíblicos: “Nós, testemunhas de Jeová, aceitamos tratamento médico e cirúrgico. Amamos e respeitamos a vida. Entendemos com base bíblica, que a vida está no sangue, por este motivo a bíblia é clara quanto ao seu uso. Por exemplo, a Noé patriarca bíblico, Jeová Deus deu a seguinte ordem: ”Somente a carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer.” (Gênesis 9:3, 4) Provando que esta não era apenas uma orientação ocasional, tal ordem foi repetida mais tarde a Moisés: “[Tendes] de derramar seu sangue e cobri-lo com pó” (Levítico 17:13, 14).
Cirurgias sem sangueAs Testemunhas de Jeová e muitos especialistas em todo o mundo apresentam como alternativa as chamadas “cirurgia sem sangue”, que consiste em administrar eritropoetina ao paciente. “Esta substância estimula o aumento dos valores de hemoglobina no sangue e deve ser usada no período pré-operatório, de preferência três semanas antes da data prevista para a cirurgia”, explica a médica anestesista Daniela Rocha Gil, em dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. “Outra alternativa é usar substâncias que favorecem a coagulação e minimizem a perda sanguínea intra-operatória”, esclarece.Existe a opção de utilizar uma máquina que recupera o sangue que seria perdido no período intra-operatório. “O aparelho aspira o sangue do campo operatório e consegue processá-lo para posterior re-infusão no paciente”, diz a médica.
Daniela estudou no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto 11 pacientes Testemunhas de Jeová submetidos a cirurgias de grande porte. “O estudo mostra que é possível minimizar o número de transfusões sangüíneas no período intra-operatório”.
Daniela alerta que os métodos de cirurgia sem sangue não estão disponíveis em todos os centros médicos do País. “O ideal seria associar várias estratégias concomitantes, como o uso de eritropoetina e a hemodiluição, para reduzir a perda sanguínea, como foi feito na maior parte dos pacientes estudados.”O que dizem alguns médicos‘A cirurgia sem sangue não é só para as Testemunhas de Jeová; é para todos os pacientes.
Acho que todo médico deveria recorrer a este recurso.’ — Dr. Joachim Boldt, professor de anestesiologia, Ludwigshafen, Alemanha“Embora as transfusões de sangue hoje sejam mais seguras, ainda têm riscos, incluindo reações imunológicas e infecção por hepatite ou doenças sexualmente transmissíveis.” — Dr. Terrence J. Sacchi, professor assistente clínico de medicina.
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